Vivemos em um mundo de extrema competição, seja no mercado de trabalho ou em outras áreas da vida e, por isso, não é novidade para ninguém que tenhamos que desempenhar diversas tarefas em períodos curtos de tempo. Porém, o que muitas vezes pode passar despercebido são as consequências negativas ou prejuízos que essa correria ocasiona na saúde mental das pessoas, quando a mesma não recebe a devida atenção. A partir disso, pode aparecer uma ansiedade que foge da normalidade, tornando-se patológica. Mas, antes de entrarmos nesse assunto, vamos diferenciar esses dois pólos.
Primeiramente, ao se falar de ansiedade, precisamos compreender que se trata de um sentimento presente em todo ser humano, pois indica um sentido geral de perigo, advertindo as pessoas de que há algo a ser temido. Ou seja, nesse ponto, ela exerce uma extrema importância para nossa sobrevivência, pois é uma resposta fisiológica, natural e adaptativa do nosso próprio organismo. No que diz respeito à ansiedade patológica, fatores como duração, intensidade e frequência ocorrem de maneira excessiva. Ou seja, quando os mesmos se apresentam em níveis acima do esperado, e com isso, sintomas como falta de ar, insônia, inquietação, fatigabilidade, irritabilidade, medo intenso, sensação de estar com os nervos à flor da pele e tensão muscular, se fazem presentes de maneira acentuada.
Claro que não podemos deixar de falar sobre adolescência, pois esse é o principal foco desse artigo. Segundo Papalia (2013), a adolescência é uma transição no desenvolvimento entre a infância e a vida adulta que impõe grandes mudanças físicas, cognitivas e psicossociais. Nesse sentido, existem algumas características que são consideradas normais do desenvolvimento do adolescente, como: busca de si mesmo e da identidade, constantes flutuações do humor, contradições em seu discurso, dúvidas em algumas tomadas de decisão, entre outros.
A ansiedade em adolescentes tem aumentado de maneira significativa, principalmente dentro do contexto escolar, como temos visto nos noticiários nos últimos meses. Vivemos em um mundo globalizado que pode oferecer tanto ferramentas que auxiliam no desenvolvimento de nossos adolescentes como também de autodestruição.
Por isso, faz-se necessário que as pessoas que estão ao seu redor, observem possíveis comportamentos disfuncionais/inadequados que possam começar a aparecer.
Os pais podem ter dificuldade para perceberem os sintomas dessas condições já que a dificuldade de controlar emoções é característica dessa fase. O adolescente afronta regras, questiona a autoridade dos pais, reage intensamente às situações e acredita estar sempre certo, dificultando a distinção entre comportamentos típicos da adolescência e os sinais da ansiedade.
Alguns comportamentos de risco que o adolescente pode manifestar são: mudança drástica em sua rotina, excesso de consumo de álcool e outras drogas, impulsividade na vida sexual, isolamento social, comportamentos alimentares pouco saudáveis, inatividade física, dependência por redes sociais e jogos online, comportamento agressivo para si e para os outros, intolerância, autoestima baixa, apreensão constante com o futuro, perda de interesse em atividades e hobbies que antes gostava, desatenção, perda de memória, etc.
Aqui cabe um adendo a respeito do uso constante de redes sociais, pois as mesmas, infelizmente, têm sido um espaço sem limites acerca de informações errôneas que podem impactar na saúde mental e influenciar os adolescentes de uma maneira negativa.
Por outro lado, existem também fatores de proteção que podem auxiliar em um bom desenvolvimento socioemocional dos adolescentes, como por exemplo: intimidade, proximidade familiar, relação positiva com os pais, estar inserido em ambientes que não reforcem comportamentos de risco, educar emocionalmente – trazendo a reflexão de que sentimentos tanto confortáveis como desconfortáveis podem aparecer e que isso faz parte do processo da vida -, atividade física, disciplina, responsabilidade, boa alimentação, entre outros.
Uma das coisas que mais ajudam o adolescente nesse momento de sofrimento psíquico é que pessoas próximas o acolham e conversem de maneira genuína sobre seus sentimentos.
Além disso, ofereça uma escuta atenciosa e sem julgamentos, pois, às vezes, o adolescente só tem o desejo de desabafar, sem buscar respostas para os seus dilemas. E assim, ele saberá que pode contar com os pais em momentos de dificuldade.
O tratamento para ansiedade na adolescência é feito através de psicoterapia (com o profissional psicólogo) e, dependendo do quadro ansioso, o acompanhamento psiquiátrico também é válido. Vale ressaltar que o apoio familiar durante o tratamento é indispensável.
O acompanhamento com o psicólogo, através do trabalho em conjunto com o adolescente, irá auxiliar na identificação de gatilhos emocionais, sintomas debilitantes da ansiedade, angústias do adolescente e possíveis causas para a apreensão constante. À medida que o próprio paciente compreende como a ansiedade afeta suas ações, emoções e pensamentos, ele passa a responder melhor ao tratamento.
Por fim, é importante compreender que para encarar e vencer a ansiedade patológica é necessário dar um passo de cada vez, respeitando os limites da pessoa ansiosa e fazendo encorajamentos constantes, para, a partir disso, obter uma melhor qualidade de vida.
Paulo Eduardo S. Santana Psicólogo Clínico CRP 18/03454
Graduado em Psicologia pela Unic Rondonópolis – MT
Pós Graduado em Saúde Mental e Atenção Psicossocial Formação em Psicopatologia
Contato: (66) 99904-7542