Anne Mota descobriu que era uma pessoa trans aos 12 anos, vendo um documentário nas redes sociais e teve apoio da família. Quando tinha essa mesma idade, Renata Peron levou um tapa na cara do pai, que não queria um filho afeminado. E foi expulsa de casa.
Pouco mais de 20 anos separam essas duas gerações de mulheres trans. elas relembram como viveram as mesmas fases de formas bem diferentes (às vezes, nem tanto) .
Anne protagonizou e foi premiada pelo filme “Alice Júnior”, de 2019, que conta a história de uma adolescente trans. Renata, que se define mais cantora de que atriz, atuou em uma serie, do Globoplay, sobre intolerância.
De Roberta Close a Ariadna
Na adolescência, nos anos 80/90, Renata Peron não sabia que era travesti: só começou a entender quando viu Roberta Close e Rogéria na TV.
Na mesma fase da vida, já nos anos 2010, Anne teve outras referências: Ariadna Arantes, foi a primeira trans BBB, e a modelo Lea T, filha do jogador de futebol Toninho Cerezo, que fantástico, sobre sua cirurgia de redesignação de gênero. Renata resolveu abraçar plenamente sua identidade aos 27 anos, depois de sair de Juazeiro (BA) para São Paulo e ser espancada na Praça da República, em 2007.
Sete anos depois, foi a vez de Anne decidir fazer sua transição, fora do país. Achou que seria difícil realizar isso no Brasil; já tinha sofrido agressões na escola “por ser considerada um garoto afeminado”.
Elas também revelam muitas semelhanças, além da identidade de gênero. A arte, a militância e a esperança no futuro unem essas duas mulheres nordestinas de gerações bem diferentes.
Renata, hoje com 46 anos, conseguiu ultrapassar os 35, tidos como “expectativa de vida” para pessoas trans, e a luta “das que vieram antes” e a revolução da tecnologia e das conversas na sociedade abriu caminho para que Anne, que tem 24 anos, encontrasse informações e algum acolhimento desde cedo.